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27.3.07

gente que vai (02/02/07)

Mesma rotina de arrumação. Não tomamos café, cedo demais. Também saímos silenciosos e distraídos. Discretos e agradecidos. O portão fechou calado.


[agradecimentos]
Ao Valadão, que nos encaminhou para lá;
Ao Itajubá, nosso amigo primeiro, pelo acolhimento, pelos almoços fartos, pela roda aberta, pelas trocas;
Ao Rái (Fábio Assunção do Vale do Paraíba), pelo lar cedido, pela convivência e riso fácil;
Ao Avelino, pela dedicação incrível, pelas lições, pelas conversas, pelos bocados a mais;
A Li, pelo encantamento, pela delicadeza, presentes e solicitudes;
Às meninas reencontradas (Gabriela e Francine), pelo afeto renovado, apoio oferecido e mostras de perseverança através da evolução delas no baque, assistida por nós;
Ao Paulet, pelas gentilezas e graças;
Ao Smith, pelas visitas, pela doçura, pelo poeta;
Ao Carneiro, pela simpatia e generosidade;
Ao Titi e ao João, pela admiração e sentimentos de fortaleza para nós;
Ao Tainã, pela sua juventude viva, vibração limpa, energia ilimitada;
À Tati, pela amizade irreversível, pelas orientações e indicaçoes preciosas para a compra dos equipamentos necessários;
Ao ‘Perna’, pelos sons familiares de seu sotaque;
Ao Ifi e ao Felipe, pela agradável companhia e conversas sobre a profissão;
A turma toda, pela permissão da roda aberta, por cada integrante especial, seja o de brilho explícito ou latente;
Ao Baque do Vale pelo espetáculo, pela alegria, pelas camisetas, pelos lanches, pelo carnaval, pela convivência e, sobretudo, pelo estado de família provisória.
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arremates (01/02/07)

fechar pesquisa ....... terminar galinhas ....... acertando palavras ....... afinando engasgos comunicar a ida ....... sentir a partida ....... quase ....... procurar pouso seguinte ....... fechar caderno ....... fechar diário ....... bagagem para arrumar ....... coisas para juntar ....... misturado

quatro eram dois casais na rua ....... entristecidos .......... tentando se conformar ....... tentando amenizar ....... saudade ....... sementes ....... presentes de última hora ....... trocados ....... milho cavalo marinho ....... velas e luz ....... jantar gostoso ....... maracujás ....... mais alguns bocados

na casa dois habitantes viram três ....... (sem contar o Honório) ....... (sem contar já com a gente) ....... um bilhete deixado para todos ....... casa para mudar ....... também eles ....... procurar e encontrar ....... também eles ....... um lugar novo e ideal

um aniversário ficou no ar ....... não podíamos ficar ....... a carruagem abóbora ....... a carruagem tapete ....... tapete voador ....... estrada acenando carona ....... biu doido para ir ....... movimento ....... avante ....... seguir

mais um toque, derradeiro ....... acabou-se fevereiro ....... depois é distância ....... depois não ....... nem ver de perto ....... é o impedido ....... é o hiato ....... pode-se guardar lembrança ....... mas o toque não ....... o toque não existe mais ....... vira estante ....... vira orkut .......
recordação
uma amiga colorida fica ....... um lugar reedificante arca ....... um grupo esfuziante marca ....... espécies no coração

konidomo

[figurinha repetida]
Pode parecer impossível. Mas aconteceu. E não foram duas ou três vezes. Mais. A gente esbarrou com gente e reencontrou. Em outra parte. Outro lugar e momento. Conheceu num canto, para depois conhecer seu canto. Desse jeito, tivemos oportunidade de viver emprestado a vida deles. Ganhar amigos deles. Ganhar abraço deles. Mais de uma vez. Mais de uma despedida. E foi então que chegou a Tremembé outra figura repetida. Entre dois abraços de despedida, felizmente, há um abraço de reencontro. Muito mais saboroso.
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inspiração para produzir (26/02/07)

Ambiente de criação e produção. Perfeito para nossas mãos. Um par de mãos para galinhas de xitas, atividade que nos ajudou a pagar contas, ainda em Fortaleza. Outro par de mãos para invenções, consertos domésticos, artes do meu marido. E fosse apenas inspiração, brincaríamos mais. Porém, a necessidade também é patroa de nossas tarefas. E precisamos de recursos entrando, ainda que ínfimos.
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aniversário de 3 meses (24/02/07)

Depois do carnaval, também pudemos acompanhar a vida que segue. Um banzo em principio. Mais encontros que ensaios, descanso breve merecido. Assim, no sábado, surgiu a idéia de fazer-se um churrasco. E, foi juntar motivos para a ocasião: nesse dia, comemorávamos 3 meses de expedição. Nada mais propício.

[quando se traduz o tempo em sentença fechada, vê-se o intervalo como retrato. Pouco que foi para isso, largo que foi para aquilo. Muito o que aconteceu. Gente demais pelo caminho. Coisa demais no coração. Uma mão de espécies. O tempo vira coisa guardada. E já se lê transformação. De nós objeto. De nós sujeito.]




uma pausa (em tudo)
konidomo

"Wardemá"
konidomo

nesse dia quente
konidomo

fechamentos
konidomo
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carnaval no Vale do Paraíba (20/02/07)

Mas nem só de Juca Teles vive o carnaval da região: nosso deslumbramento foi compensador. Acompanhando a turma do Baque do Vale, transitamos por várias cidadezinhas, oportunidade única de conhecer uma cultura muito diferente do que estávamos habituados. Dimensão menor que Olinda(PE), mas um pouco parecido, entretanto, com um ar novo. Mais brincadeira, mais xita na rua, mais novidade. E a agenda seguiu assim:

17/02 sábado: São Luis do Paraitinga (bloco do Juca Teles, pela tarde) e Caçapava (desfile de Maracatu e marchinhas, pela noite)
18/02 domingo: São Luis do Paraitinga (bloco da Maricota, pela tarde e marchinha ao longo da noite e madrugada)
19/02 segunda: São Bento (com direito a banho de cachoeira e desfile pela noite e ainda bloco do Zé Pereira)
20/02 terça: São Luis do Paraitinga (mais marchinha e blocos, mas resolvemos ficar em Tremembé)

[uma casal paulistano estava conosco, infelizmente teve que voltar para casa, por infelicidade das conseqüências da chuva. Uma árvore caiu sobre a casa, fato lamentável, intrigante. E ainda não tivemos noticias, esperamos que esteja já tudo bem.]

preparativos [Raquel (primeiro plano), Itajubá, Francine e Gabriela]
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Salve simpatia [Avelino]
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não por acaso [Titi na perna-de-pau]
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pra tocar [Titi e João]
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pra dar o tom
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nos intervalos
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Baque do Vale em trânsito
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uma parte do Baque [Tainã, Dodô, Jaqueline, Titi, João e B.A.]
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casamento
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o ponto do nó
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a alegria em si [Li]
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mestre
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carnaval com cordas?
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tem maricota que é canhota [Avelino nos baticuns]
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São Luís do Paraitinga
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Cortina de São Luís [Carneiro e Gabriela]
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plural [Perna (o porta-estandarte), Smith e Tainã]
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entre os batuqueiros
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Cachoeira (Em São Bento) [Paulet]
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lavar a alma
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na palma do João
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emblemático [Júlio, Raquel, Valadão e Rái]
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[o Honório é ladrão]

E não é que o cachorrinho bonitinho era ladrão? Pegamos o danado no flagra, carregando um saco de chocolates no focinho, sorrateiramente. Pego no ato, largou o saco e seguiu no mesmo passo, dissimuladamente...

[e num é que ele dá risada?! De alegria, se revê o dono, se fica feliz, dá risada. Onde já se viu?]

[cabaré do Honório]

Por conta dos furtos excêntricos, sobretudo pelo teor dos objetos, chegamos à conclusão de que Honório guardava um mistério. Vez e outra ele sumia e ouvíamos barulhos estranhos oriundos do jardim. E, chegando por perto, nada se via, apenas se ouvia um movimento sob os arbustos. E dava para ver um buraco. Ao chamarmos, ele saía desconfiado e concluímos de que só podia ser algo ilícito. Era lá que ela guardava as coisas surrupiadas, de chocolates a CDs (sim, ele havia roubado, da mesma maneira acima descrita). E, por dedução, decidimos que se tratava de um cabaré. O cabaré do Honório.


posar
konidomo


bonitinho que só e malandro demais
konidomo
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De frigideira para o Juca Teles (17/02/07)

Ficamos sabendo do carnaval em São Luis do Paraitinga através de um documentário, que assistimos ainda em Fortaleza. Achamos bem atraente, quando vimos e na busca por um lugar para estar durante o carnaval, lembramos do documentário, mas não lembrávamos o lugar. Foi a maior coincidência saber que se tratava de uma cidadezinha próxima a Taubaté. E casou perfeitamente com o interesse anterior de visitarmos nosso amigo Itajubá.

Pois bem, era sábado de carnaval e havíamos ouvido falar de ‘Juca Teles’. Aliás, desde que chegamos, mencionavam o bloco, pareceu-nos bem atrativo. Infelizmente, acordamos tarde para garantir carona até a folia. Mas, avaliando a situação e sendo esta oportunidade única de ver o tal ‘Juca Teles’, decidimos ir mesmo assim.

E foi uma epopéia. Primeiro porque precisávamos ir até Taubaté. Como se não bastasse, o ônibus conduzia até a rodoviária velha e era preciso ir à nova. Apenas de lá havia transporte para São Luis do Paraitinga. Acontece que, seguindo o ditado ‘quem tem boca vai à Roma’, a gente acabou descobrindo outro meio. Desceu antes do ponto, segundo orientação de uma moça (aliás a população do Vale é incrivelmente atenciosa e solícita), de modo a seguir a pé até a Rodoviária nova. Entretanto, o calor estava insuportável e o caminho nada curto. Numa segunda investida por informação, acabamos conseguindo uma carona. Ótimo, se não fosse um carro desses de carroceria (como pampa, fiorino), o qual é proibido transportar pessoas atrás. Mas o senhor ficou com pena da gente e disse que nos levava se fôssemos deitados. Perfeito: o sol estava afiadíssimo e deitamos sobre o piso de plástico preto ondulado, ou seja: muuuuuito quente! Chapa mesmo, à moda de teflon ou “grill George Foreman” E fritamos, como ovo na frigideira!

Enfim na rodoviária, ainda tivemos que esperar até o próximo ônibus cerca de uma hora. Nada grave, afinal era carnaval e estávamos mais perto do que longe. Achávamos. Isso porque havia um engarrafamento tremendo até lá. E um detalhe importante: não havia banheiro no ônibus. Isso era grave! Em ritmo de festa, todo mundo ingerindo água, cerveja e companhia resulta em quê? Muita vontade de ir ao banheiro! Uma tortura! A sorte é que o motorista era muito compreensivo e resolveu parar para alívio de alguns, que encararam a beira da estrada.

Bom, depois disso, pisando finalmente em solo carnavalesco, caminhamos mais algum bocado. E para nossa frustração, havia acabado de terminar o bloco. Brincadeira! O consolo foi encontrar nossos conhecidos e poder voltar de carona. E para completar a história, eles já estavam de partida... Resumo de tudo: foi chegar, sentir o fim de festa e voltar. Assim, ridículo e lamentável...


Juca Teles?
konidomo
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Baque do vale (14/02/07)

Há um grupo de Maracatu no Vale do Paraíba. E estávamos lá. Exatamente no meio deles. Respirando Maracatu, mais uma vez, brilho nos olhos, doce aos ouvidos e, sobretudo, rebuliço para as mãos do Júlio. Tocador é sempre tocador.

Na nossa mais nova morada funcionava oficina para feitio dos instrumentos, ensaios, ar, som, tambores, baque, Baque do Vale. Os dois habitantes fixos (porque a casa enchia-se e esvaziava-se ao sabor da vontade e ainda havia Honório, também apreciador) viviam o maracatu. Em integridade. Vez e outra se tocava através de CDs, ou falava-se a respeito, trocava-se culturas, intercâmbios com Pernambuco, ou outro movimento similar, vindo de outros recantos. Casamento da arquitetura com maracatu, ambos das duas espécies: um arquiteto, outro estudante, os dois do Baque. E havia outros da profissão no grupo, atuantes formais ou não.

A gente freqüentou ensaios, em outras casas, em outras praças, em outras ruas. A vizinhança aprecia, o som é música, não incomoda, ao contrário. E participamos por dentro, vendo a produção, ajustes, asperezas, antes, durante e depois do carnaval.

Estar lá nessa época, de carnaval, foi mais que encontrar local para passar a festa. Foi oportunidade de trabalhar durante, no Projeto. Para quem trabalha com esse tipo de coisa, o carnaval é o ápice, momento do êxtase, alma doida para explodir no couro do tambor. É hora essencial para divulgação do grupo, ganhar a rua, ir ã público, ir às palmas. É feito estar na casa do Joãozinho Trinta, às vésperas de desfile na avenida, roupas na arara, desgastes, ansiedades, limites e ‘ilimites’, das mãos em calos e da superação do toque. Do toque da alma.

Foi sorte grande, no que concerne mais que antropologia para a pesquisa e coisa e tal. Foi superlativo na medida da plenitude, por meio da reunião de pessoas com o meio, costurada pela música, arte prima (por permitir amor carnal) da nossa conhecida arquitetura. E por algo inconsciente e indefinido, algum ingrediente especial, impossível de encontrar ao físico, ao explícito, ao tato. E recusa-se externar. É o que se chama, magnificamente (porque é linda a palavra) de transcendental. Nunca será possível descrever ou explicar a transcendência.
[biu adoentado]
Coisa boba? Sempre dói ver o menino sofrer. Sim, menino, posto que fusca jamais será apenas um carro, para quem tem. Numa dessas extravagâncias de ir e vir com muitos e não deixar ninguém a pé, repleto de tambores e pesos (muitos pesos) a mais, algo aconteceu à suspensão. E a partir de então, internamos o bichinho na garagem, por praticamente toda a nossa estadia. Arrumar, só depois do carnaval...



primeiro bom-dia [Avelino, Itajubá, Rái e Raquel]
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no ofício [Raquel, Avelino e Itajubá]
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multiplicação do Baque [Flávio Itajubá]
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pra enfeitar no carnaval [RAquel, "Rái" e Júlio]
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pra dormir acompanhado
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Vale do Paraíba (13/02/07)

A região é, por um lado, termo novo. Esse nome, essa flor, esse nome da rosa desconhecida, até pouco. Mas é um lugar de memórias. Já estivemos algumas vezes, quando estudantes, coisa de Movimento estudantil (a gente inclusive se conheceu em Taubaté, de dois beijinhos, nada especial...). E, por um lado, se é São Paulo, por outro é Vale. E vale muito para quem está, quem vive lá: muitos de outros cantos, vindos de outras cidades. É mesmo uma flor de nome, poesia a serra no fundo da rua. E ainda tem sanduíche enorme, qualquer um com milho, ervilha, purê de batata, batata palha, queijo, presunto, tomate, alface.
Estávamos mesmo obstinados a comer o tal lanche, à memória de nossas visitas de outrora. Mas, apenas visitamos a UNITAU, em primeiro momento. Sem tantos estudantes como nos foi acostumado o olho, mas o mesmo ar. Plantas crescidas, paredes de novos tons. Vigor na ferida do peito, por saudade adormecida pelo toque despertada...

[cidade como bairro]

E seguimos para Tremembé, ali do lado, onde ficava a casa de nosso mais novo acolhedor. Como não fomos felizes na busca do sanduíche em Taubaté (na praça Santa Teresinha, onde era recorrente, só apareciam as carrocinhas depois das sete da noite), fomos continuar busca pelas redondezas. E foi no desfrute que reencontramos nosso querido, ele foi nos buscar de bicicleta na lanchonete.

Muita informação, logo de cara. Conhecemos o outro morador da casa e um amigo deles. E conhecemos também o Honório, mais um cachorro para se apaixonar. Tomamos café e conversamos. Conversas de reconhecimento: para atar convívio interrompido pelo tempo e para ilustrar-se a si, para novos olhos. Como se pinta a própria imagem? Um casal de fusca? Arquitetos? Nordestinos? Viventes de Maracatu? Tinta fresca para novos retratos...

[Tremembé é como um bairro de Taubaté, em hierarquia de tamanho e equipamentos urbanos, além da relação amiúde que há, das pessoas e dos lugares]


no centro
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pra chegar no novo lar
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pela cidade
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Tremembé que salva (13/02/07)

E pegar o ônibus para Parati, quando em Trindade salvou. Um, porque comemos mais barato (com a chuva ficava difícil usar o fogareiro). Dois, porque compramos alguns mantimentos com preço mais acessível. E, principalmente, porque pudemos ir a uma Lan house, graças a isso, receber contato de Taubaté.

E assim fomos. Também passou pela cabeça, ainda em Vitória, passarmos o carnaval em São Luis do Paraitinga, ali perto, por ser adverso do que conhecemos. Tudo estava favorável, foi fechar os olhos e bater a porta por lá.


Ubatuba lá em baixo
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Tremembé à frente
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14.3.07

Trindade tempestade (10/02/07)

E de manha cedo, depois de pernoitar num acampamento de preço razoável, seguimos para Trindade, conforme sugestão de alguns que encontramos no caminho. Lá, foi busca imediata da necessidade mais básica: abrigo. Incrível ver isso a prova desta maneira, sair do discurso da habitação como demanda prioritária do se humano e sentir, na vida real.

E, depois de garantirmos teto por três dias, passamos para outra precisão de sobrevivência: o alimento. Bom que dava para usar a aparelhagem inteira de camping. A cidade era falhada de alguns equipamentos, como bancos. Os serviços eram caros e alguns produtos também. E, por conta disso, tivemos que ir num dos dias à Parati, no intervalo de chuvas, posto que o céu fechou-se por lá.

Pegamos tempestade de alagar barracas e deixar muitos sem abrigo. No nosso caso, tivemos que dar duro na arquitetura, tirantes para reforços de plásticos, dada a falha absurda de impermeabilização (aquela tosca costura em lugar infeliz) nessas barracas de acampar.

[para repartir a cabeça, ainda uma bronca a mais, comunicada bruscamente: incompatibilidade extrema de nossa Sofia em seu lar provisório. Caiu como o teto, mais forte que o vendaval]



na cozinha
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pra suportar
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choveu
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[o nome da rosa]

Um nome para o fusca, que surja natural. A nossa intenção era essa e tão forte que aconteceu. Natural. Quando tínhamos tudo para pensar e como se não bastassem todas as broncas do momento... Uma piada? É rir para não chorar? Essa parte foi tão cearense! Engraçado que depois do Rio, lembramos mais o fato de sermos nordestinos, ficou mais rotineiro. E para tal, brincadeiras, inclusive entre nós, o pernambucano torto (origens confusas) e a cearense super homônima de outra cearense (dois carimbos na testa). A gente também ri das rivalidades ou excentricidades de cada Estado. E foi assim que conheci o diminutivo de Severino (nome muito taxativo, muito Nordeste). No Pernambuco, chama-se BIU o Severino, assim como Chico o Francisco, Toim o Antônio e etc. E, diante da expressão de estranhamento, eles explicam como óbvio, como José é Zé. E o fusca, por patifaria, virou Biu. É claro que foi uma homenagem a nossas raízes, engraçadas e sérias ao mesmo tempo. Como aquele adesivo de carro ‘orgulho de ser... ’. Bonito: agrega a terra, o homem de cócoras, a valentia, o sertão, o tom avermelhado, o pau de arara, mesmo quando é caricato. Mas a gente bate no peito e se um diz oxe, o outro diz vixe, autênticos. Coisa que fazemos questão.
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para ir para ti (09/02/07)

Tapioca para a noite de despedida. Um agrado. Mas ir foi uma questão de necessidade. É verdade que a gente quase voltou, por ter deixado em aberto uma vivencia outra da cidade. Por não termos conseguido ir do outro lado, visitar um amigo, de abraço prometido há tempos. A comunicação também não furou o cerco e acabamos trocando verbo apenas uma hora depois de sairmos do Rio.

E de carro parado na estrada, mais uma vez a situação estimulou seguirmos caminho. Muito chão ainda há. E o carnaval ficou para além do samba, uma incógnita, de lugar e tudo, para adiante.

Nesse meio tempo, paramos para um banho de mar transparente: uma pausa em Angra dos Reis. Mais além, chegamos em Parati. E encontramos tudo muito caro.

[contribuição denota liberdade de dar ou não. No Centro de informações turísticas, a ‘contribuição’ é de 50 centavos para usar o banheiro. Mas não é voluntário...]

[agradecendo]

à Marlene, pelo carinho saudoso e receptivo, abrindo seu lar para nós;
ao João, pelo abrigo, pelo alimento e pela reflexão de uma perspectiva nova, diametralmente adversa para nós,
ao João Mateus, por dividir seu quarto e o computador, bem como momentos;
à Joana, por suas delicadezas, lições, orientações de caminho, companhia, zelo e abraço;
à Roberta, por ilustrar o cotidiano, através das suas visitas e conversas casuais;
à Chaguinha, por abrir a porta da sua casa, pela torta de banana, pelo cafá, pelos sorrisos e histórias e pelo isopor de presente;
ao Felipe, pelo almoço sensacional e risadas de gosto;
ao Paiva, pela contribuição mecânica, pelo papo agradável e doçura de olhar;
à turma da Oficina (Mário, Norma e funcionários), pela atenção e interesse para como projeto;
à Missanta, pelo exemplo de determinação (e toda admiração à sua enfermeira);
à família inteira, representada alternadamente, pelo carinho e compreensão de nossas falhas;
ao Eduardo, por entender e lamentar nosso desencontro;
à Casa dos Artistas, por nos receber e mostrar o belo trabalho que realizam, pelas palavras de Sorriso;
aos nossos anjos protetores, por permitirem nossa saída em paz, sem danos ou marcas permanentes, mesmo quando o medo nos molestou na Linha Amarela...
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casa dos artistas ( 08/02/07)

Artistas são para sempre. Porque são sensíveis. E não podem deixar de ser. É bioquímico. Porque são como borboletas: flores que voam. E como borboletas, possuem o tempo do casulo, ora explícitos, ora afogados pelo sofrimento perpétuo de sentir. Sentir tudo demasiado, dor e felicidade. E, embora tenhamos conhecido um lado triste da história, ainda há o perfume mágico da arte pelo ar, da maquiagem, das coxias, da cortina ainda apta a se abrir.

[e conversamos com Sorriso, atuante na Casa dos artistas, antes ‘Retiro dos artistas’. E conhecemos alguns dos residentes. E aplaudimos aqueles que fazem daquele espaço um palco digno para os seres mais sensíveis do Universo.]
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Rio redoma (07/02/07)

O prédio onde ficamos situava-se em Jacarepaguá. Pelas redondezas do Projac. Era tão forte o imaginário da infância dessa coisa de televisão, que nos primeiros dias vimos do mirante do condomínio o complexo cenográfico da Rede Globo e sua aura cercada por matagais. Imensidão de terras, arquitetura ilustrada entre as lacunas verdes, cidade recriada, inventada, de mentira. Mentira bem contada, é verdade, a gente até sabe o quanto assimila. E ficou com a ilusão na cabeça de que poderia realmente encontrar pela rua uma celebridade (a mesma quando chegamos nas cidades e acreditamos na possibilidade de esbarrar com os conhecidos do lugar. Mesmo anônimos.). Brincamos tanto com isso, que acabamos vendo a Lílian Cabral.

A região em que estávamos era a própria expressão do isolamento. Não apenas pela geografia, já que ganhava méritos de distância somados pela sua natureza: matas, rios e montanhas. Mas o isolamento também era reforçado pelo desenho urbano, a circulação entre os bairros, a relação com a cidade. Para nós, em especial, havia ainda a condição de família, no processo de matar saudades e notícias. A agravar tudo, a forte tensão no ar, generalizada na cidade, causada pelos incidentes recentes de violência urbana. Respirar difícil, claustrofóbico; o desequilíbrio ambiental está explicito na quantidade absurda de pernilongos (as nossas muriçocas). Mas o sufocamento é muito mais pela prisão criada em si, do direito roubado de ir e vir, livre. Livríssimo? Meio livre? Assim como honestidade, não há para tal grau de intensidade. Ou é ou não é. E pronto.

acolhedora [Marlene Paiva Dalvi]
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miudezas [João Mateus, Joana e Raquel]
konidomo

feito menino pequeno
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pra ver o Projac de cima [e boa parte de Jacarepaguá]
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antes de partir [Joana, João, João Mateus, Marlene, Raquel e Júlio]
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[joaninha encantada e seu filho passarinho]

Joana banana. Rega as flores no jardim. No jardim, uma gaiola, de seu filho passarinho. Maçã na boca, ora da mãe pássaro, ora da mãe Joaninha. A voz dela é rouca. A palavra dela é doce. Tão grande que enche a casa, bonita que enche os olhos. E afaga a alma dos ao redor. E erra o caminho, ou se confunde, melhor dizendo. Porque é tão grande, que esquecemos que é criança. Porque é joaninha. Porque é pétala. E é banana. E faz vitamina de banana (a nossa bananada) de manhã. E pula a janela. Menina amarela. Não gosta de vestido, gosta de cuidar. Gosta de passarinho. Da praia da Pedra da Macumba. Do posto 12. Do estreito entre as duas marés. E não gosta de refrigerante. Arde na boca dela. E faz pequenos jacarés com miçanga colorida. E mandalas com CDs. Gosta de ‘frango em pé’, feito pelo pai. Ela também faz café. À moda carioca. E faz pipoca com chocolate, bolo com cobertura. Sempre doce. Joaninha.


menina fada
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Rio família (05/02/07)

Ocorre que não há apenas o intervalo de repouso mental, em que uma noite ameniza o desgaste emocional da exposição demasiada e convivência consecutiva. O Rio era bem específico para tal: não intentávamos priorizar o projeto, mas o reencontro de Júlio com sua família, sobretudo com sua mãe biológica.

E, de fato, bom ter intentado isso, posto que a absorção foi demasiada. Visitamos parentes no Anil, fomos visitados, almoçamos, conversamos, tantos a conhecer, tanto a responder, ser observados, ser avaliados, dessas coisas.

E acabamos enxergando um bom aspecto para a pesquisa naquela condição toda. A família que morava lá era fruto do êxodo de 60, 70, fugidos da miséria ocasionada pelo fenômeno da Seca e esperançosos de melhores oportunidades. Assim como eles, muitos outros, que reconhecíamos nos supermercados, lojas de conveniência, nas ruas, nas praias, ainda segregadas, espécie de ‘aparthaid’, reforçado, às vezes, por eles mesmos.

[rio encabulado]

Porque a simulação de não ser (ou a mimese da aparência, da voz, do sotaque, das origens) faz de si agente do próprio incômodo. O preconceito é alimentado pela permissão dada no momento em que o sujeito ausenta-se como personagem direto, negando-se para não ser o objeto, em vez de negar o pensamento. Assim, perpetua-se um comportamento pejorativo, de estima baixa, na medida em que o disfarce torna-se solução de sobrevivência. A negação de si é a desvalorização das raízes, da diversificação, desperdício de si mesmo e dos seus antepassados.


[mais um ‘banho de loja’ no fusca]

O fusca passou por mais uma ‘geralzinha’. Levamos na oficina do tio do Júlio, o Paiva e lá se retocou aqui, ali. Outro dia, trocamos o óleo um posto de gasolina que dava direito a um banho de ducha. E, por fim, trocamos os pneus traseiros, com pintura nova das rodas e tudo. Muito chique.



Auto Elétrica Paiva [recomenda-se]
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rio família
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.............................................................................................................. foto: Joana Paiva Dalvi

na origem
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mais uma história
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.............................................................................................................. foto: Joana Paiva Dalvi

uma tarde no Anil
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