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31.8.07

ampulheta (26/07/07)

A dois dias do vencimento da Carta verde. Dia de ir, impreterivelmente. Ir, e deixar a casa linda de quintal. Ir, e deixar a salamandra, no meio da sala. Ir, deixar Bonardita, Fúria, Farinelli. Deixar um abraço, algumas receitas. Levar fotografias e memórias, deixar um amigo na saudade, levar a saudade desse querido. Ir e pensar: que fazer em San Luís, sem contato prévio? Ir e olhar pela janela do carro. Haverá azeite de oliva no caminho para comprar? Ir, com uma angústia de tempo interrompido, enforcado. Ir, entretidos em pensamentos paralelos, cada um com etéreos argumentos. Ir e poder atrapalhar nossa amiga, que no momento estava concentrada em seus estudos. Ir e a razão de ir não poderia estar solidificada em fragmentos, corrompidos por angústia e resquícios de tempo turvo. A areia que descia enquanto pensávamos; em dois dias haveríamos de parar, por tempo indeterminado. Condicionados pelo Mercosul; o tempo, o tempo, a vida assim decidida por um documento. Paramos. Encostamos por alguns minutos a pensar. Descemos do carro e tudo dizia tanto, num silêncio brando, que não ousamos ignorar. Ir, não era para ir. E foi assim que fizemos o retorno na autopista. Cem quilômetros depois, rumo leste. Com um litro de azeite de oliva por 10 pesos argentinos, voltamos. O poente então a frente, ali estava o prenúncio do tarot: seguimos o sol. E voltamos para casa.

para casa
konidomo

[agradecimentos]

- ao casal mendoncino do HC, que gentilmente também nos ofereceu abrigo em Mendoza, pelo interesse para com o projeto e pela disposição;
- ao Julian de la Rosa, nosso acolhedor em Mendoza, razão pela qual devemos muitos agradecimentos ao Universo: a possibilidade do encontro fraternal, intenso, feliz. Agradecemos pelas delicadezas, pelos frangos, pelos assados, pela maionese caseira, pelo macarrão artesanal, pela festa de aniversário, pelas alegrias, pela reconstrução de nossas almas destroçadas, pela hospitalidade, pelos risos, pelos animais, pela abundância de vida, seus amigos, sua casa aberta e florida para nós;
- ao Lizandro, por ceder gentilmente seu quarto para nossa estada e pelas oportunidades todas que nos proporcionou;
- ao Ramiro, amigo de Julian, presente em nossa chegada, agradecemos por compartilhar a alegria desse instante tão esperado, pela noite agradável e todas as outras que seguiram, por seu interesse sempre grande em nossas histórias;
- ao casal Lucero e Mauricio, os viajantes cordobeses, por compartilharem conosco momentos importantes, pelas refeições, pelos caprichos para com o espaço, pelas trocas, a quem desejamos muita sorte na estrada, pelo rumo que tomem;
- ao Federico, pelos presentes, pelo interesse em nos ajudar;
- a Mariana, pela química instantânea e interesse para com nosso projeto;
-ao Kike, por sua presença sempre alegre e querida;
-ao Luís, por todas as colaborações e contatos;

konidomo
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cumpleaños (24/07/07)

Dia de banho. Fila longa, tempo para fazer brigadeiro. Tempo para comprar o ingresso do filme. Dia de festa: pipoca para ir ao cinema. Dia de criança: raspar o brigadeiro da panela. Festa com pizza e muitos convidados. Muitos novos conhecidos. Dia de protagonista: presentes, felicitações, copo cheio, só agrados. Alegria, em pensar nos queridos distantes, apagar uma vela imaginária, fazer um pedido e estar, categoricamente num brinde próprio. Reveillon pessoal e intransferível, de um mistério íntimo, preciso, pronto para receber, no meio da testa, o sol.

dia de
konidomo

28
konidomo

[ecossistema]

Uma doga argentina do lado de lá da grade, no vizinho. Hundur – apelido dela na casa - linda e solitária, grande, meiga e contraditoriamente assustadora. Uma poodle do outro lado, outro vizinho, sempre presa e sofrida, em frio e sede, de uma tristeza terrível. Uma doga argentina do lado de cá, Bonarda, ainda um dogo bebê, de 4 meses. Fúria Turbina Tropical, um mestiço, cachorro inteligentíssimo, independente, de uma brandura admirável. E Farinelli, o malandro, gato cantante que não perdoa restos de comida ou pratos sofisticados esquecidos por alguns minutos sobre a mesa. Pé de pomelos – fruta local, pé de louro, pé de burro – perfeito para o chimarrão e ótimo para perfumar o ambiente. Cactos, o clima é seco, tempo de galhos, inverno longo e com rigor.

a banda
konidomo


cupim
konidomo


borralheira
konidomo


recompor
konidomo


realeza
konidomo


crescente
konidomo
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inferno astral (22/07/07)

Para trafegar por solo uruguaio, argentino e chileno é necessário que se tenha um documento chamado “Carta verde”. Um seguro para terceiros, todavia, que fizemos por três meses, dada sua elevada equivalência monetária. Assim, como já estamos a muitas datas pela estrada do Mercosul, nossa carta estava por vencer, coisa de dias. Um estresse a mais, posto que nessa circunstância, não se pode tomar a ruta, há de parar ou descobrir como se renova. Enfim, estávamos por descansar dos dias turbulentos em Chile, da Cordilheira, de todas as entrelinhas que aparecem numa linda e fantástica viagem pela América do Sul. Assim é. E também fazemos aniversário entre uma coisa e outra, sentimos um inferno astral sufocado por limitações reais. E o plano era partir para San Luís, passar uma noite e seguir depois para Córdoba, onde uma querida amiga estava disposta a nos receber mais uma vez. E então, no exato dia de vencimento, estaríamos bem ao centro do território argentino, estrategicamente, e, ainda, contando com apoio de um abraço amigo, mais importante. A partir de então, Biu estaria oficialmente de férias. Entretanto, nada estava confirmado, ainda esperávamos a resposta do Hospitality Club, para abrigo em San Luís.

Nesse meio tempo, há uns dias, chegara um casal de Córdoba, também para hospedarem-se na casa. É mais um costume que tomamos nota em nossos apontamentos: recebia-se no lugar muitos viajantes, muito movimento, muitas culturas, em objetos pelo espaço. Histórico especial, das antropologias, a mais retórica. E na nossa passagem, dividimos o calor do inverno com esses dois viajantes cordobeses, que viajavam, por sua vez por terras argentinas, de modo a viver seu país num momento em que a sociedade já lhes cobra um futuro certo. Assim, apreciamos a companhia, a história e a iniciativa deles, tão jovens e tão maduros, a ponto de discernir pelo melhor caminho: se perder para se encontrar.

[pelas ruas da cidade, rasgos nas calçadas, de modo a conduzir a água, sistema de drenagem. São abertos, sem proteção, sempre se pode cair em um. Um dia, o fusca caiu com um pneu no que havia em frente à casa. Fomos 4 para empurrar. Tiramo-lo do buraco sem maiores conseqüências...]

bom dia
konidomo

boa noite
konidomo

domingo
konidomo

amor cordobês
konidomo

roda
konidomo

cena
konidomo

batmacumba
konidomo

assando
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fragmento
konidomo

som
konidomo

cena
konidomo

[meu amigo ‘Juliano’]

Julian é argentino, nós somos brasileiros. Julian é de uma velha amizade, ainda que desconhecida para nós. Delicadezas, recurso da sensibilidade, pronta para dar; uma percepção nata, do que há, do que passa. Compreende, sem português, sem espanhol, que a química é algo da natureza. Que os humanos ignoram mais que deveriam. Que é de amor o nascedouro de todas as gentilezas genuínas. A amizade só não é mais linda porque já está naquele limite de singeleza que por pouco não atinge o cafona. Limite do doce na língua, entre o sublime e o demasiado.

nos vemos
konidomo

mi cumpadre
konidomo
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casa-ímã (20/07/07)

casa grande, casa quente, passa gente, passa conversa, passagem. Casa quadro, pendurado nas paredes, mimos. Um tom elegante, simples e adornado, luzes de natal, fole, madeira, passa artista, passa arte, presentes. Sempre um humor escrito, desenhado, largado como enfeite. Passa o mundo, de visita, passa a vida, passam Bonarda, Fúria, Farinelli – dois cães e um gato – passa frio, passa para dentro, família.
Passa assado, frango em forno de barro, frango com romero. Passa massa pela máquina, fará fazer fideos. Casa alegre, passa vinho, passa riso, passa pássaro, sol a jato. Depois anoitece, passa lenha, passa fogo, uma roda passa adentro, passa outro, passa assunto, passa música. Casa de músico, fina sintonia conosco, improvisos com panelas, passa um lindo som, tocado a luz de vela.
almuerzo
konidomo

gato de botas
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laboratório
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entretenerse
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ritual
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de tanto andar
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anúncio
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um blá
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chapéu do Ceará
konidomo

ato
konidomo

fideos
konidomo

glaciar
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'batmacumba'

[missão tapioca]
Voltar: já não é desconhecido. Algo se reconhece, da codificação de outrora, quando passamos pela primeira vez. Cada país tem suas delícias e não nos esquecemos das daqui: essa fantástica sintonia, esse solo tão familiar, tátil; a Argentina possui um ar parecido com de nossas fontes. Olhos, a gente se identifica; palavras, a gente se comunica. A gente se sente latino-americano, sangue vermelho, vivo, a gente se sente. Há fécula de mandioca, entre outras alegrias. E enquanto busca, é buscado, é escutado, abraçado, alimentado. A gente troca mais, a gente toca mais. Come tapioca. E dissemina o gosto ao paladar argentino. A ciência do pó que se une sem azeite, pura alquimia. A gente ensina como faz, a gente aprende como fala e come. Come com manteiga, com doce, com coco, com ovo. Dos cafundós da tradição nordestina, do fogão nossos avós no Ceará, receita especial, direto à mesa argentina. E adorada.
la clave
konidomo
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La puntilla (18/07/07)

Não bastasse a travessia, mais estrada. Entramos no centro de Mendoza e não era lá. Seguimos uma ambulância que também ia por Lujan. E não era lá. Depois de tantas horas, encontramos o lugar. Mais uma casa parida por HC, trazida aos braços, delícia é ter aonde chegar. Um aceno querido, de um músico, que confirmamos, ainda em Viña Del Mar. E a casa era de minucioso figurino; detalhada, farta de delicadezas, salamandra para amenizar o único frio adentro, do inverno.

retrô
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1890
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latente
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de julho
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'minha amiga salamandra'
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glass+++++
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o trono
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bienvenido
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fresca
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tem gente
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licenças poéticas
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estampa
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La Puntilla
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el paso Chile-Argentina (18/07/07)

cuando la naturaleza grita,
los instintos animales aparecen.

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konidomo

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'colores'
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