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29.1.07

o protagonista (02 /01/ 07)

Dia para tentar desvendar o mistério do fusca: no segundo dia do ano já dá para resolver pendências. E a nossa era das grandes. Assim, nos repartimos em funções. Enquanto Júlio corria por estas providências, servi-me de outras tarefas. Como nossa acolhedora anunciou falhas nas aptidões culinárias, preparei grande quantidade de arroz e feijão, para a semana e para congelar. Desse modo, poderia atender-lhe, mesmo depois de irmos.

Nós, coadjuvantes, pois a prioridade era consertar o carro (ah, saudade do barulho do motor), distraíamos em outras vertentes. E nossa estadia se dividiu assim: empenho no fusca e agrados. Como disse antes, gentilezas são flores do coração. Mimos são afagos, almoço gentil todos os dias para nossa anfitriã. Mais que conceitos feitos acerca dos serviços domésticos, apreciamos fazer com as mãos, limpar a casa é purificar-se, cozinhar, é fazer alquimia. E nos divertimos assim. Até ensaiei as costuras, para aproveitar o tempo demandado pela bronca do fusca (Ao que parecia, só em Feira de Santana resolveria). Mas o que imperou foi mesmo o capricho pelo espaço: Júlio consertou vários pequenos desajustes (portão cedendo, portas pesadas, trincos difíceis...) e comemos bem, jantares de invenções, conversas, observações, muitos brindes.

[a mulher moderna com habilidades domésticas nos tempos contemporâneos é mais transgressora que aquela que queimou seu sutiã. É como ver novelas e ler Shopenhauer. É como fazer feijão e incendiar pensamentos em verbo. É como costurar e fazer poesia. Sensibilidade é para tudo. O senso comum transveste-se de independente e livre, alimenta-se de self-service, fast-food, às vezes de comida natural fake, pois está na moda. Mas é infeliz, tenso, doente e desgastante. E por vezes, falso. E a gente nem sabe mais o que dá câncer, se também a maçã envenenada ou o tomate: sobra comer legumes orgânicos e caros. Mas, continuamos acreditando que a diversidade ainda é um instrumental de sobrevivência: ruim é ler apenas bobagens, comer todo dia café com aspartame, ruim é prender-se atrás do fogão, ou em estereótipos, é aprisionar-se em falsas intelectualidades, é enfurnar-se a uma moda de leitura, de pensamento, de rodas, de restrições... Talvez assim se possa dizer-se livre, fora do esquema, qualquer um. E ainda, desse jeito, corre-se menos risco de ingerir agrotóxicos e coisas do gênero] pensamentos confusos ao longo dos das, o entendimento é mesmo retalhado.



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estar [Raquel Queiroz e Denise Maher]
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