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13.12.06

Ilha de Deus (07/12/06)

Se fosse o óbvio, já seria uma ilha... E é uma Ilha de verdade: cercada de água por todos os lados e acessada por uma ponte sobre palafitas.

O mesmo oficiante nos levou lá. A Ilha de Deus é uma comunidade à beira do Mangue, formada por casas em alvenaria, barracos sobre terra e outros sobre palafitas.

Entrar é ver um mundo real e não fictício. É ver sem lentes, por si mesmo e não como imprimem nos jornais: condição que se quer expor e se fazer acreditar. È sim, não há como negar, precária e de difícil acesso. Mas o que se vê - e vamos aos filtros de Tod.é: a gente vê como feio ou bonito, problema ou fonte de demandas e muito a fazer– é uma condição de vida particular, adversa, muito da geografia e da relação homem-natureza. Uma riqueza de ecossistema: o mangue e suas ofertas naturais, as intervenções humanas e a relação com o ambiente.

Atravessamos a ponte sobre palafitas, ora firme, ora frágil e chegamos ao pedaço de terra solta, a Ilha. Andamos pelas ruas com escala de gente (pedestres e ciclistas), tortuosas e estreitas, em terra. E chegamos ao ‘Caranguejouçá’ : local onde acontecem oficinas, curso de Fotografia, rádio comunitária e ainda aguarda a chegada de computadores para utilização dos moradores. Um lugar concentrador de possibilidades e efervescência.
Pois bem, lá, encontramos dois atuantes, conhecidos de nosso amigo. Falaram do espaço, das atividades realizadas e idealizadas. Nos levaram de barco aos viveiros e tivemos oportunidade de conhecer inovações técnicas, além da riqueza do lugar, desde paisagem a pessoas, pelo mangue e pelas palavras trocadas.

Nos limites entre terra e água, estão colocando mariscos de modo a aumentar a área da Ilha. Assim, para pegarmos o barco, andamos por cascas, como que uma transição entre areia e água. Nos viveiros, conhecemos uma técnica que está sendo introduzida no local. Com o intuito de tornar os ambientes dos viveiros mais abundantes, estão utilizando ‘Fisálias de pet’.

O que chocou, infelizmente mais que a beleza do lugar, foi a poluição absurda do rio. Há janelas no fundo das casas – das comunidades vizinhas, pois na Ilha de Deus há um forte trabalho de conscientização em prol da preservação do ambiente - próprias para jogar-se o lixo! E vimos acontecer, ali, ao vivo, sem contos. Navegamos pelo rio e vimos ao fundo Boa viagem e os edifícios hostis: em visual e em desigualdade econômica; em ambiente construído e desigualdade de condições, oportunidades e coisas das quais sempre ouvimos. Mas ver! E soubemos que os dejetos de lá também acabam ali, clássico das metrópoles. Soubemos também de um barco que passa fazendo a coleta de lixo, como o caminhão que conhecemos. Ficamos imaginando e mesmo assim, foi difícil crer. A completa insanidade nisso tudo, a legitimação de um hábito condenável e suicida. Pois dali vem o sustento principal da comunidade. E camarões que vão à mesa dos restaurantes e fartos banquetes dos mais favorecidos. Suicida e ilógico, se não fosse também irônico, comer o próprio lixo, num ciclo violento de péssimos hábitos. Violento por violentar-se a si, ao meio, ao outro, apenas em momentos diferentes, mas com o mesmo gesto. Enfim, vimos lixo demais e uma paisagem sendo consumida pelo crônico e clichê ato humano. Perverso. Mas vimos linda resistência do lugar, caranguejos morando em buracos de tijolos, pássaros ainda, gente interessada em cuidar, luta romântica e admirável, árvores e mangue, a natureza encontra meios de vida, ali, em qualquer lugar.


[Fisálias:Trabalho de Paulo Paes, artista plástico paraense. “fisálias de pet, um aparelho flutuante feito com garrafas de plástico, que, introduzido no mar, cria um ponto de fixação para a vida marinha. No projeto Fisálias, continentes flutuantes são utilizados plásticos de embalagens de refrigerante, onde o artista desenvolve esculturas figurativas e abstratas que são amarradas às raízes dos manguezais, onde devem ficar durante anos enquanto se integram à biodiversidade do ambiente.” Texto extraído de notícia no endereço: www.espacociencia.pe.gov.br/noticias. Para saber mais: www.fisaliasdepet.com ]

Agradecimentos à comunidade e em especial:
Diogo Tod.é, que nos apresentou o lugar e as pessoas;
Paulo Paes, que mesmo não conhecendo pessoalmente nos permitiu uma nova ciência, através de seu trabalho com as fisálias de pet;
Homero e Garotinho, que nos abriram seu lugar, mostrando lar e trabalho, que nos levaram para conhecer o mangue em seu barco e nos acrescentaram como gente, como estudiosos que são e bravos, lutando, todo dia, por um mundo melhor.


Ilha de Deus: vista aérea
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início do passeio - tod.é no comando
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primeira parada, viveiros de camarão
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Fisálias de Pet
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enquanto se espera
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Garotinho nos registros
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na maré [Homero, Garotinho e Tod.é]
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Garotinho
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Homero
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no meio de Recife
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de volta à sede do Caranguejouçá
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1 Comments:

Anonymous Andressa Maria said...

oi sou moradora da Ilha de Deus,e me sinto alegre em saber que em meio um mundo caotico de visões, enchergamos pessoas como você que parou um pouco para ver nossa comunidade em ação. Temos momentos alegre e contubardos como qualquer outro lugar,mas o esuberante desse lugar é que o bonito habita em nós, e nós formamos uma comunidade chamada Ilha de Deus.
Uns fortes aplausos para você!

7:00 AM  

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