a a a

18.5.07

terra fora (27/04/07)

Não há película para atravessar, a fronteira em realidade não existe. É imaginária. Aduanas, para vistos, visto que somos brasileiros. Passaporte carimbado, o primeiro emblema estrangeiro. Sim, temos comidas, fizemos questão de mostrar, mas tudo certo na Barreira Sanitária; não havia nenhum porco ou bode morto conosco. Temos café, aveia, arroz, pena que não compramos polvilho doce, que também serve para fazer tapioca e foi uma descoberta nossa na viagem.

Sonido novo, pelo rádio, pela janela, pelos gritos das crianças que passavam de volta do colégio. Placas com dizeres ilegíveis para nós, um dicionário em punho, ágil, para decifrar. Não se decifra. Não se decifra o código invisível, tampouco sabemos, vemos, mas nao lemos; são enigmas, não vivemos no lugar. Nova dimensão, moeda, língua, tom, gestos… Não reside no idioma a apartação… são códigos, códigos de outra pátria, que todos conhecem, a gente não. Analfabetos sociais, não entendemos hábitos, cardápios, somos quase cegos, somos quase surdos, mudos, somos artificiais. Não fazemos parte dessa natureza, dessa paisagem, somos corpo estranho, estranho… Estraño?

Todas as dificuldades se agigantam, as intempéries surgem a mais. Para dormir, para comer, adoecer, jamais. Perguntamos por um abrigo, não há desayuno, pois é luxo de brasileiro. Bueno, um bom hotel, com garagem e bem barato, não conhecemos mesmo ninguém. Depois, sair para comer, sentir-se estúpido novamente, não há o que fazer.

Mas são apenas sustos, instinto de recuo, diante do desconhecido. A gente teima e vai, a gente segue, segue, segue, e vai, rumo ao breu. Ceda el paso, ceda el paso numa ponte angosta, vamos ao breu depois daquele carro, é só ver se o nativo faz, se bebe a água da torneira. Se ele bebe, se ele vai, tudo certo, podemos também. Vamos seguindo, mas antes observamos o movimento, não somos tolos, somos retirantes. Somos vivos. Sagazes brasileiros.

[e foi à prova: Procura-se antes a caverna, depois se come. Não havendo comida, o sono alimenta. O primeiro instinto é do abrigo.]

literalmente
konidomo
a